28 de outubro de 2006

Respeitemos os números

Confesso que não sou bom com números. Nunca fui. Tanto que no vestibular – prestado para a Universidade Federal do Maranhão – não tive grande êxito nas chamadas ciências exatas. Felizmente, fui muito bem nas matérias que de fato interessavam ao curso pretendido – Direito. Passei.
Apesar dessa deficiência, nunca deixei de reconhecer a importância dos números e dos cálculos que deles se valem. Até hoje me pego fazendo contas para exercitar o cérebro. E, por incrível que pareça para alguns, foi justamente devido a essa minha predileção pelas ciências humanas que pude aprender que não é possível vivermos sem números, sem cálculos. Tudo são algarismos, equações, probabilidades, estatísticas etc.
Partindo dessa nada original constatação e seguindo ao que interessa, afirmo que devemos mais respeito aos números. Mais que isso: precisamos dispensar total reverência, verdadeira veneração, mesmo, aos números.
Diariamente, vemos gestores públicos de todas as esferas justificando a insuficiência ou a inexistência de políticas públicas com o alquebrado, desgastado, vil e falso argumento da falta de recursos. E dizendo que seria necessário tanto para isso, tanto para aquilo. E haja números! Não raro, essas falácias nos são impostas no mesmo espaço de mídia em que se revelam superávits, aumentos de produção, pesquisas mostrando que o Brasil é o maior produtor mundial disso e maior exportador daquilo.
Ora, comprem-me um bode! (Sempre quis usar esta expressão, embora até hoje não saiba muito bem o que ela significa)
Basta de lorota. Chega de tentar tapar o sol com um biquíni fio-dental feito de tela de peneira.
Àqueles que tanto se valem dos números para tentar justificar sua inação, sua incompetência, sua falta de compromisso com o Público, enfim, faço uma proposta. Não! Apresento um desafio: usemos esses mesmos números para encontrar a equação e o resultado que tire milhões de brasileiros da miséria; façamos cálculos e mais cálculos para estabelecer quanto tempo e quanto dinheiro serão necessários para isso; proponhamos ao povo que se engaje nesse mega-projeto aritmético; revertamos os bilhões gastos com publicidade governamental e coisas supérfluas para esse fim, isto é, para esse início de construção de um país melhor, mais justo, mais igual.
Não tenho dúvidas de que a adesão só não será total porque os usurpadores da pátria decerto pensarão que estão prestes a perder as únicas coisas que dão sentido às suas medíocres vidas: a possibilidade de manipular números e cálculos e, por conseqüência, desconsiderar e desprezar vidas e sonhos, como se zeros à esquerda fossem; e de fazer com que tais zeros somente tenham relevância quando se revertem em dígitos à direita dos saldos de suas contas bancárias – sejam elas reais, fantasmas ou alaranjadas.
É apenas isso que proponho: respeitemos os números! Respeitem o povo brasileiro!
Juiz Mário Márcio de Almeida Sousa