Tentei, tentei muito não externar
publicamente minha opinião sobre os protestos que tomam conta do Brasil,
sobretudo em virtude dessa praga do politicamente correto, como diz o filósofo
Luiz Felipe Pondé, que empurra muita gente que se acredita boa a dizer somente
o que alguns querem ouvir. Mas a minha natureza não deixou, Graças a Deus! Então,
lá vai.
Como disse um sujeito acostumado a externar
apenas o que lhe convém, ninguém em sã consciência pode ser contra manifestações
populares por melhores condições de vida - considerada essa expressão, vale
dizer, em sua mais ampla acepção. Ocorre que as tais manifestações brasileiras já
passaram – e muito – do razoável. Basta ver que os atos de violência aumentaram
e se tornaram mais graves e que o emprego e o sustento de milhares de pessoas
já estão comprometidos a pretexto do tal despertar do gigante.
É bem verdade que muito pouca gente
imaginou que as coisas tomariam tamanha proporção. Mas deve ser como aquele
velho ditado: quem nunca comeu melado, quando come se lambuza. Depois de séculos
de letargia, o povo acha que acordou e perdeu a medida. A pretexto de bradar
contra políticos e governantes, esse mesmo povo que ora se acredita em estado
de vigília acaba por atingir apenas aos seus iguais e a si próprio. Ou alguém
acredita mesmo que as “conquistas” alcançadas não serão pagas por nós mesmos?
Creio, sinceramente, que temos o
direito e o dever de protestar e que algumas vezes se faz necessário endurecer
as ações. Por outro lado, tenho a firme convicção de que o Estado tem o dever
de agir para evitar as badernas, as destruições e as inadmissíveis restrições
que uns poucos têm imposto a milhares de cidadãos que só querem trabalhar,
estudar, enfim, seguir a vida normalmente.
Por mais que possa parecer, não sou tão
imbecil a ponto de dizer que a polícia não tem cometido excessos. É evidente
que tem. Mas esses excessos não são unilaterais. Ora, não se pode esperar
comedimento de uma tropa que está há semanas de prontidão, muitas vezes sem
comer e dormir direito e sem ver a família. Ainda mais quando se depara com uma
turba que a agride física e moralmente, turba essa que muitas vezes sequer arca
com os custos das passagens que pretende reduzir, para ficar apenas num
exemplo. É fácil passar dias a protestar quando se tem em casa alguém
trabalhando ou tentando trabalhar para pagar a conta...
Caminhando para o encerramento deste
pequeno desabafo, registro que neste belo domingo de sol me deparei na avenida
Litorânea, em São Luís/MA, com uma passeata de médicos que protestavam pela
manutenção do “ato médico” e contra a contratação de profissionais estrangeiros,
além de uma concentração em prol do Telexfree (não sei se virou passeata ou
carreata). Embora tenha opinião formada sobre os três assuntos – como leigo, no
caso dos médicos, é claro -, não me sinto autorizado para dizer do acerto, ou não,
das bandeiras levantadas. Quero apenas dizer que, depois de uma semana infernal,
na qual quase não se pode ir nem vir, trabalhar, estudar, amar, bem que os profissionais
da saúde, muitos dos quais meus amigos, poderiam ter ocupado apenas uma faixa
da via, mesmo tendo sido curta a manifestação. Afinal, presas no engarrafamento,
ainda uma vez, estavam famílias, bebês, crianças, idosos e doentes. Se a ideia
era angariar apoio popular, penso que deram um tiro no pé. Pelo menos foi o que
ouvi das pessoas com as quais conversei.
Repito, desta feita para finalizar: muito
pouca gente imaginou que as coisas tomariam tamanha proporção. Talvez por isso muitos
governantes, mais preocupados com popularidade e votos, tenham demorado tanto
para agir. Perderam, pois, o controle. Mas ainda dá tempo de reagir. Até
porque, se nada for feito, sabe Deus onde vamos parar.
Em tempo: antes que alguns me
recomendem à forca, lembro que também sou cidadão brasileiro e, por isso mesmo,
tenho o direito de dizer o que penso e de protestar da forma que me convém:
escrevendo.