No início de 2016, escrevi um texto
intitulado “O que há com o Maranhão, afinal?”. Passados quase
dois anos, cá estou eu a tratar da quase que eterna duplicação da
BR 135, no trecho de chegada à capital, São Luís do Maranhão. E
isso porque, constrangido e indignado, fui obrigado a assistir a uma
tal inauguração de um “pedaço” de uma das pistas da estrada,
talvez uma das coisas mais bizarras que vi desde que cheguei ao
Maranhão, ainda criança, em 1979. Se neste país houvesse respeito
pelo dinheiro público e pela população, não temo dizer, esse
vergonhoso evento sequer teria sido pensado. Realizado, então…
Desde que o motor da primeira máquina
roncou na malfadada obra, que se iniciou há mais de cinco anos,
rompeu sei lá quantos governos e consumiu mais de meio bilhão de
reais, salvo engano, não mais é possível contar nos dedos as
vítimas fatais. Mas o absurdo não se bastou. Ele deu crias.
Reunidos
num só ato – que sequer deveria ter sido cogitado, insisto -,
representantes dos mais variados matizes políticos e ideológicos se
acotovelavam em pugilatos verbais, chegando perto mesmo das tais vias
de fatos. Tudo isso enquanto operários ainda cuidavam de finalizar o
acostamento ao lado das tendas sob as quais todos se abrigavam. Um
pouco mais adiante, logo ali, bem perto mesmo, jaziam buracos que
decerto por muito tempo ainda ficarão insepultos. Mas isso deve ser
apenas um detalhe na inauguração de uma estrada, não é mesmo?
Numa
tragicomédia repleta de deploráveis cenas de falta de educação,
de total desrespeito para com os que não comungam da mesmas opiniões
e militam em campos políticos diversos, autoridade federais,
estaduais e municipais sucederam-se em discursos acalorados, todos
com um único e só propósito: mostrar-se à opinião pública, ou
melhor, ao eleitorado, como imprescindíveis ao grande feito, à
inauguração de um “pedaço” de uma das pistas da estrada cuja
duplicação, repita-se, se arrasta há anos, rompeu sei lá quantos
governos e consumiu mais de meio bilhão de reais.
Quando
parecia não ser possível piorar, eis que entra em cena a
assistência, num patético coro de ofensas e baixarias de lado a
lado. Como dizem os mais jovens, senti a tal da vergonha alheia.
Ressalvadas as minhas limitações, pelo que pude perceber, os atores
desse teatro de horrores têm uma visão muito prática e realista da
política - como me disse um amigo que muito respeito -, mas
absolutamente turva dos verdadeiros anseios daqueles em cujo nome
todo poder dever ser exercido: nós, o povo. Isso sem contar que suas
condutas revelam absoluto menoscabo pela inteligência e pela
dignidade da massa, da humilde à letrada. Pobre Brasil! Pobre
Maranhão!
Por
coerência intelectual, reitero o que consignei no texto de 2016. Não
busco aqui ou pretendi alhures tecer críticas ou acusações a
grupos de situação ou oposição, do passado ou do presente, do
novo ou do antigo regime. Primeiro, porque, conquanto por vezes até
pensem assim, essas pessoas não são, nem de longe, o Estado, a
Nação. Segundo, porque, com deplorável frequência, quando não se
enroscam em alianças espúrias, muitas delas acabam sempre por mudar
de lado, sem jamais perder algo de essencial que torna algumas delas
quase que idênticas: suas ações e realizações estão muito,
muito aquém de suas falas.
No
fundo da minha cidadania vilipendiada, a
grotesca inauguração
fez
brotar o quase que incontrolável ímpeto
de pedir que Suas Excelências tomem vergonha. Mas isso poderia
soar grosseiro, sem falar no risco de ser inócuo. Resta-me, pois,
rogar: ao menos ruborizem-se, senhores!
Mário Márcio
de Almeida Sousa - Juiz de Direito no sofrido Maranhão