De acordo com o dicionarista Pedro Nunes, senso comum “é a faculdade inata em quase todos os homens normais, de julgar e proceder segundo os ditames da razão”.
Pois bem. Hoje, nos quatro cantos do mundo, não há um único homem dotado de senso comum que não seja capaz de perceber que o real interesse dos americanos com a guerra contra Saddam Hussein é a importantíssima reserva de petróleo iraquiana e que a libertação daquele árido país e de seu povo é apenas mais um argumento falacioso advindo lá das bandas do Tio Sam.
Particularmente, acredito que George W. Bush e seus asseclas dispensem alguma atenção aos graves problemas sociais e políticos que afligem aquele pobre - e ao mesmo tempo tão rico – país das arábias. Por outro lado, não tenho dúvidas de que essa preocupação é residual, isto é, após a nefasta guerra que hoje assistimos em tempo real, a eventual ajuda americana ao povo do Iraque consistirá apenas numa espécie de retribuição pelo domínio dos campos de petróleo e conseqüente “americanização” da economia da terra das mil e uma noites.
- Mas isso tudo é muito óbvio! - devem estar afirmando o leitor e a leitora.
E eu concordo. Mas não é exatamente sobre essa questão que estou pensando. Na verdade, o que também me preocupa no momento é o modo como a violência vem sendo usada, cada vez mais, para que se façam valer até mesmo interesses tidos como legítimos por seus titulares.
Num passado que não sei exatamente a que distância fica, alguém disse que a violência é a arma dos ignorantes, dos despreparados intelectualmente. Com o passar dos tempos, essa idéia foi tomando corpo e, nos dias que correm, tem servido como argumento para tentar-se impedir ou pelo menos minimizar os efeitos extremamente danosos que certamente produzirá a guerra que os Estados Unidos e o Reino Unido insistem em travar contra o Iraque.
Mas, infelizmente, essa regra, como qualquer outra, não é absoluta. As recentes imagens dos protestos ao redor do mundo contra o conflito multimídia demonstram bem que a violência não é utilizada apenas como instrumento para a concretização das idéias e dos ideais dos tiranos, dos ditadores e dos falsos estadistas que ainda teimam em habitar nosso planeta.
Em toda parte, o que se vê são jovens e até mesmo adultos valendo-se da violência para dizer não ao conflito. Pessoas que se dizem a favor da paz agridem covardemente aquelas que apoiam – um tanto insensatamente, é certo – o uso de força militar contra o regime de Saddam. E o mais grave é que o fazem crentes de que sua luta, essa sim, é legítima.
Vendo discursos e atitudes tão paradoxais, pergunto-me: onde está a razão?
Ora, por mais pacifistas que sejamos, não podemos deixar de reconhecer que os EUA contam com uma razoável - eu disse razoável – legitimidade quando tentam destituir um governante que representa verdadeira ameaça para os americanos e até mesmo para o mundo. Eis que surge, então, outra pergunta: será que o meio escolhido por Bush e Blair é o mais indicado? E o preço em vidas humanas, valerá a pena? Creio que não.
Por outro lado, também é certo que pacifistas e pseudopacifistas têm a seu favor o igualmente legítimo argumento de que uma guerra não é a melhor solução para nada e que umas poucas nações não podem se sobrepor aos interesses de quase todas as outras Nações Unidas. Mas aqui também cabem perguntas: será que protestos violentos contribuem para alcançarmos a paz? Ou será que essa incapacidade de viver sem violência - mesmo quando o que se busca é a paz – já faz parte da natureza humana? A esses questionamentos eu não ouso responder.
Mas uma coisa eu afirmo: ninguém está com a razão! E nem poderia ser diferente, pois, como bem assentou o escritor alemão Schiller, “a violência é sempre terrível, mesmo quando a causa é justa”.
Juiz Mário Márcio de Almeida Sousa
(Artigo elaborado em 2003, quando o autor ainda era assessor jurídico do Tribunal de Justiça do Maranhão)
Pois bem. Hoje, nos quatro cantos do mundo, não há um único homem dotado de senso comum que não seja capaz de perceber que o real interesse dos americanos com a guerra contra Saddam Hussein é a importantíssima reserva de petróleo iraquiana e que a libertação daquele árido país e de seu povo é apenas mais um argumento falacioso advindo lá das bandas do Tio Sam.
Particularmente, acredito que George W. Bush e seus asseclas dispensem alguma atenção aos graves problemas sociais e políticos que afligem aquele pobre - e ao mesmo tempo tão rico – país das arábias. Por outro lado, não tenho dúvidas de que essa preocupação é residual, isto é, após a nefasta guerra que hoje assistimos em tempo real, a eventual ajuda americana ao povo do Iraque consistirá apenas numa espécie de retribuição pelo domínio dos campos de petróleo e conseqüente “americanização” da economia da terra das mil e uma noites.
- Mas isso tudo é muito óbvio! - devem estar afirmando o leitor e a leitora.
E eu concordo. Mas não é exatamente sobre essa questão que estou pensando. Na verdade, o que também me preocupa no momento é o modo como a violência vem sendo usada, cada vez mais, para que se façam valer até mesmo interesses tidos como legítimos por seus titulares.
Num passado que não sei exatamente a que distância fica, alguém disse que a violência é a arma dos ignorantes, dos despreparados intelectualmente. Com o passar dos tempos, essa idéia foi tomando corpo e, nos dias que correm, tem servido como argumento para tentar-se impedir ou pelo menos minimizar os efeitos extremamente danosos que certamente produzirá a guerra que os Estados Unidos e o Reino Unido insistem em travar contra o Iraque.
Mas, infelizmente, essa regra, como qualquer outra, não é absoluta. As recentes imagens dos protestos ao redor do mundo contra o conflito multimídia demonstram bem que a violência não é utilizada apenas como instrumento para a concretização das idéias e dos ideais dos tiranos, dos ditadores e dos falsos estadistas que ainda teimam em habitar nosso planeta.
Em toda parte, o que se vê são jovens e até mesmo adultos valendo-se da violência para dizer não ao conflito. Pessoas que se dizem a favor da paz agridem covardemente aquelas que apoiam – um tanto insensatamente, é certo – o uso de força militar contra o regime de Saddam. E o mais grave é que o fazem crentes de que sua luta, essa sim, é legítima.
Vendo discursos e atitudes tão paradoxais, pergunto-me: onde está a razão?
Ora, por mais pacifistas que sejamos, não podemos deixar de reconhecer que os EUA contam com uma razoável - eu disse razoável – legitimidade quando tentam destituir um governante que representa verdadeira ameaça para os americanos e até mesmo para o mundo. Eis que surge, então, outra pergunta: será que o meio escolhido por Bush e Blair é o mais indicado? E o preço em vidas humanas, valerá a pena? Creio que não.
Por outro lado, também é certo que pacifistas e pseudopacifistas têm a seu favor o igualmente legítimo argumento de que uma guerra não é a melhor solução para nada e que umas poucas nações não podem se sobrepor aos interesses de quase todas as outras Nações Unidas. Mas aqui também cabem perguntas: será que protestos violentos contribuem para alcançarmos a paz? Ou será que essa incapacidade de viver sem violência - mesmo quando o que se busca é a paz – já faz parte da natureza humana? A esses questionamentos eu não ouso responder.
Mas uma coisa eu afirmo: ninguém está com a razão! E nem poderia ser diferente, pois, como bem assentou o escritor alemão Schiller, “a violência é sempre terrível, mesmo quando a causa é justa”.
Juiz Mário Márcio de Almeida Sousa
(Artigo elaborado em 2003, quando o autor ainda era assessor jurídico do Tribunal de Justiça do Maranhão)
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