O que há com o Maranhão, afinal?
Logo
de início, esclareço que as linhas a seguir não encerram críticas ou acusações
a grupos de situação ou oposição, do passado ou do presente, do novo ou do
velho. Nem poderia ser diferente, porquanto, com deplorável frequência, quando não
se enroscam em alianças espúrias, muitas dessas pessoas acabam sempre por mudar
de lado, sem jamais perder algo de essencial que torna algumas delas quase que
idênticas: falam muito e pouco ou nada fazem.
Em
verdade, o que este texto pretende, além de servir como instrumento de
desabafo, é (re)discutir algo que a realidade insiste em nos jogar na cara a
cada dia, desde sempre: o persistente descompasso do Maranhão em relação ao
resto do mundo. E o faço de um ângulo bem peculiar: o de um motociclista.
No dia
25 de fevereiro de 2016, eu e um dileto amigo encerramos uma viagem de mais de
sete mil quilômetros, na qual cruzamos, em duas motos, Maranhão, Tocantins,
Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul, até Corumbá/MS, minha cidade natal.
Como diz um dos meus filhos, foi tudo tranquilo, tudo favorável. Mas só até
voltarmos ao Maranhão, só até tentarmos vencer o trecho Santa Inês/São Luís. De
fato, o que travamos foi uma guerra pelas nossas vidas, tamanhos os riscos que corremos.
E isso nada tem a ver com a tão propalada - e muitas vezes equivocada -
"periculosidade" das motocicletas.
É evidente
que nessa longa aventura nos deparamos com buracos, asfalto irregular,
sinalização deficitária ou inexistente etc. Mas, com absoluta convicção, afirmo
e reafirmo que nem de longe passamos por algo parecido.
Em
muitos pontos entre Santa Inês e Miranda do Norte, a BR 222 deixou de existir.
Em seu lugar, o que há são crateras e mais crateras que obrigam os motoristas a
rodar em primeira marcha por centenas de metros, num zigue-zague sem fim. Ainda
bem que o trafego não é tão intenso. Como o problema vem de anos, a explicação
parece óbvia. E não há sinal de intervenção, sequer para minimizar os riscos e
transtornos.
Já na
BR 135, acredite, nobre leitor(a), o caos se instalou. Não há outra expressão a
empregar. Os buracos se sucedem ininterruptamente até São Luís, obrigando os
motoristas a cometer todo tipo de infração de trânsito para tentar resguardar
seu patrimônio, bem assim suas vidas e dos passageiros. Após o Complexo Penitenciário
de Pedrinhas, no trevo que dá acesso aos portos, a água se acumula e toma a
pista. Mais engarrafamento. E isso ocorre há anos, não só nesse trecho. Vale
ressaltar que a situação piorou muito em toda a via desde a nossa partida, em
13 de fevereiro.
Para
além dos aborrecimentos, esse estado de coisas faz aflorar grande estresse e
até compreensível agressividade em quem dirige por essa buraqueira, como
facilmente se percebe nas ultrapassagens e fechamentos. É um salve-se quem
puder. E fica até difícil condenar. Aqui cabe um duplo sentido...
Como
tive oportunidade de dizer ao próprio governador no ano de 2015, pedi remoção
para Imperatriz para fugir desse tormento. Mas como fica quem não tem essa
opção e se vê obrigado a circular por esse ajuntamento de buracos? Aliás,
naquela ocasião, todos os presentes à reunião ouviram de um aguerrido servidor
do DNIT que os problemas das nossas estradas decorrem, além da desculpa do
momento (a crise!), das fortes chuvas que sempre nos assolam. Ora, compre-me um
bode! E gordo! Já fui a Belém de moto e logo depois da divisa com o Pará já se
percebe a diferença. Será que lá chove menos que aqui?
Sinceramente,
duvido que em algum outro lugar do mundo uma capital do porte e da importância
de São Luís tenha sua única via de acesso terrestre em situação tão caótica. Sou
capaz de apostar. Por isso, com a ressalva sincera e respeitosa às pessoas
sérias e probas que tiveram ou têm qualquer relação com as estradas do
Maranhão, não hesito em afirmar que o problema aqui não é a escassez de recursos
ou o excesso de chuvas, mas sim a absoluta falta de vergonha de alguns.
E não
pense quem me deu a honra da leitura até aqui que considero minha instituição,
o Poder Judiciário, indene de críticas. Absolutamente! Tal como em muitas casas
alheias, na minha também há obras que nunca findam e outras que não superam
incólumes seu primeiro aniversário, para ficar em apenas dois exemplos.
Contudo, tanto os números quanto um olhar imparcial revelam que temos evoluído.
Assim não fosse, que autoridade moral e institucional nos restaria?
Por
isso mesmo e por tudo mais que da nossa triste realidade consta, na mais pura -
e talvez ingênua - esperança de que alguém lance luzes sobre minha ignorância,
reitero: o que há com o Maranhão, afinal?
Mário
Márcio de Almeida Sousa – Magistrado