Já
não consigo contar nos dedos das mãos as pessoas próximas que
tiveram o sopro de vida tragado pela moléstia que aterroriza o
mundo. Conhecidos, parentes de amigos, amigos e até da família.
Decerto que essa é também a triste realidade de milhões ao redor
do planeta. E, ao que tudo indica, assim será por muito tempo, dada
a falta de vacinas e medicamentos efetiva e inquestionavelmente
capazes de deter a disseminação da doença e de curá-la.
Daí
porque fico assombrado ao ver – país afora - imagens de
aglomerações em feiras, supermercados, rua de comércio etc. Apesar
da maciça campanha de entes públicos e dos meios de comunicação,
há aqueles que persistem em dizer que se trata de uma “gripezinha”,
que só mata idoso, que é bom pegar logo e outras tantas baboseiras
que nem convém listar. Pior: saem por aí sem o menor dos cuidados,
expondo a si e aos outros a riscos absolutamente desnecessários. E
isso para realizar tarefas que nem de longe podem ser chamadas de
essenciais, como aproveitar ofertas na inauguração de uma grande
loja e fazer festinhas “para não passar em branco um aniversário”,
para ficar só em dois exemplos.
Ora,
se quem sempre acaba por sofrer as piores consequências não faz por
si, quem ajudará? Livre arbítrio e direito de ir e vir não
autorizam e tampouco legitimam essas condutas. Quando o ar não
mais alcançar os pulmões e não houver tubo para ser
enfiado goela abaixo, o arrependimento somente valerá para questões
ligadas à Fé – isso se der tempo de se arrepender,
é claro.
A
coisa é tão grave que, para além da dilacerante dor da perda,
muitas famílias, quando têm ou conseguem dinheiro, precisam travar
uma penosa batalha para encontrar um lugar para sepultar seus entes
queridos. Sequer podem lhes dar um último beijo. Nem mesmo vê-los...
Neste
eterno país do futuro – que teima em nunca chegar -, escasseiam
profissionais de saúde, leitos, equipamentos e tudo mais para
combater esta praga moderna.
Noutra
ponta, aquela de onde deveriam ser oferecidas soluções factíveis e
eficientes, abundam incompetência, irresponsabilidade, falta de
atuação conjunta, disputa político-eleitoral inoportuna e abjeta
e, como não poderia deixar de ser, corrupção. Para espanto de
ninguém, houve até mesmo prisões por desvios na compra de
respiradores. Quem dera fosse “coisa da mídia”. Quem dera
fosse...
Como
o que está ruim sempre pode piorar, padecemos da quase completa
ausência de lideranças verdadeiras, respeitadas e comprometidas com
o bem de todos, não apenas de uns. Por óbvio, há exceções –
raríssimas, não excede dizer, mas há.
Talvez
esse seja o único aspecto no qual o Brasil guarde perene coerência:
nunca evolui. Absoluto estado da arte da grotesca máxima: deixa como
está, pra ver como é que fica.
Cá
do meu canto, do limite estreito da minha janela virtual, temo que a
crise saia do controle. A seguir nessa tocada, não deve demorar.
Peço
a Deus que nos proteja a todos. Até porque, fora Ele, não vejo a
quem recorrer!
Mário
Márcio de Almeida Sousa