27 de abril de 2012

Preto civilizado




No vestibular que prestei para a Universidade Federal do Maranhão, nos idos de 1992, o tema da redação foi estereótipo, que, de acordo com a enciclopédia virtual Wikipédia (então inexistente!), é um “conceito infundado sobre um determinado grupo social, atribuindo a todos os seres desse grupo uma característica, frequentemente depreciativa; modelo irrefletido, imagem preconcebida e sem fundamento”. Muitos trataram de preconceito. Já eu decidi falar, dentre outras coisas, sobre como a propaganda era – e é - capaz de nos fazer imaginar coisas que não existiam, criando até mesmo “bons estereótipos”, a ponto de, por exemplo, fazer com que a nação elegesse um presidente que parecia um super-herói e, tempos depois, foi apeado do poder em virtude de uma série de irregularidades.

Dias atrás, ainda uma vez, o Maranhão foi motivo de chacota para o Brasil e para o mundo, depois do completo fiasco em que se transformou um festival de música que tinha tudo para ser grandioso, histórico, inesquecível. - E que o tem uma coisa a ver com a outra? - deve estar se perguntando quem me deu a honra da leitura. Explico. O público do malfadado evento era composto, em grande parte, por homens e mulheres de todas as idades que apreciam usar roupas pretas, muitas vezes de couro e com correntes penduradas, maquiagem pesada (até os homens), cabelos longos e desalinhados, barbas por fazer e tatuagens pelo corpo - um visual que, devo admitir, às vezes parece estranho. E digo isso com toda tranquilidade, pois meu filho mais velho é vocalista de uma banda de heavy metal e ostenta essa mesma imagem, usa brincos e tem duas tatuagens enormes (ele tem 21 anos e em junho completarei 38, se Deus quiser!).

Mas, voltemos à vaca fria, como diz um querido amigo. Diante desse cenário, antes mesmos que as coisas começassem a desandar, muita gente se precipitou, concebeu estereótipos negativos e passou a pregar que um evento com milhares de pessoas com essas preferências acabaria em bagunça. Houve até quem professasse que se tratava de coisa do demônio, esquecendo-se de que falar de Deus não é suficiente para nos afastar do mal. Quando tudo soçobrou, então, chegou-se a cogitar de violência. Gigantesco engano! Nenhuma balbúrdia houve. Nada foi quebrado.

Nesse nosso Maranhão muitas vezes estereotipado e de chagas que parecem incuráveis, quem deu um show de civilidade e educação foi a galera do Rock’n Roll. E de lambuja ainda mostrou que, tal como noutros assuntos humanos, o preto é só uma cor e, por isso mesmo, não torna uma pessoa boa ou má.

E viva o Rock’n Roll! Viva a diferença! Viva o respeito mútuo!

Mário Márcio de Almeida Sousa - Orgulhoso pai de um roqueiro

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