10 de fevereiro de 2007

Pimenta nos olhos dos outros é refresco

No Brasil de hoje, não se passa um único dia sem que os meios de comunicação sejam invadidos por notícias de furtos, roubos, seqüestros, homicídios, crimes de toda sorte, enfim. No mesmo passo, vêem-se “pessoas públicas” de todas as “correntes” tentando pegar carona na imensa repercussão que têm as notícias de violência. Vê-se, sempre, uma miríade de acalorados discursos em que se diz “Basta de violência”.
Por outro lado, o da prática, esses discursos não florescem, isto é, não resultam em políticas públicas eficazes e eficientes. O povo continua abandonado à sua própria sorte. Enquanto isso, os poderosos protegem a si e a seus pares; quando falham na prevenção, esforçam-se na repressão.
O episódio envolvendo o apresentador Silvio Santos reflete bem essa realidade. Nesse caso, o Governador paulista interveio pessoalmente e chegou mesmo a expor sua integridade física. É evidente que a atitude do Governador paulista não poder ser de todo repreendida. Afinal, havia vidas em jogo. Em que pese tal fato, não se pode perder de vista a situação daqueles que não podem contar nem mesmo com a ajuda policial, quanto mais com uma intervenção direta de um Chefe de Poder.
Por isso, é realmente hora de dizermos basta. Aliás, isso já foi feito por nós, cidadãos de bem. O que falta agora é a atitude realizadora daqueles que, desejando, tudo podem. A nós, resta torcer para que todos esses discursos não se percam no costumeiro vazio da atuação política nacional.
Outro grave exemplo dessa letargia governamental é o da cidade do Rio de Janeiro, onde já se fala até em Estado Paralelo, sobretudo depois da saraivada de balas que atingiu a sede da Prefeitura da Cidade Maravilhosa.
Diante desse grotesco e deplorável episódio, alguns moradores daquela bela cidade não sabem se comemoram ou se desesperam de vez. É dizer: como a violência quase atingiu o Chefe do Executivo municipal, subsiste a esperança de que algo seja efetivamente feito, de que os discursos inflamados – até mesmo do Presidente da República - não sejam apenas figura de retórica; por outro lado, o povo sabe que se não foram adotadas medidas sérias e concretas, infelizmente, haverá ainda mais motivos para se desesperar.
Se algo for efetivamente realizado – e é o que se espera -, decerto que todos comemorarão; todavia, sem deixar de lamentar o fato de que foi preciso a violência atingir aqueles que não a combatem para que algo fosse feito. Mas, se esse for o preço, que se pague.
Seria realmente uma pena que o preço fosse esse. Seria realmente uma pena ter-se que constatar que a ação governamental só fez sentir depois que a brutal violência, que há muito grassa em nosso país, atingiu um de seus membros. Seria realmente uma pena ter-se que reconhecer que o povo tem razão ao afirmar que pimenta nos olhos todos outros é refresco.
Obs.: Este texto foi escrito em 20 de janeiro de 2002, em São Luís/MA, quando o autor ainda era assessor jurídico do Tribunal de Justiça do Maranhão. Nunca havia sido publicado. Passados cinco, lamentavelmente, ele ainda se mantém atual. Basta que se mudem os fatos citados.

Um comentário:

Anônimo disse...

Amigo Mário Márcio,

Parabéns pelo blog, pelos artigos e pela promoção p/ Viana.

Abraços,

Sandro Lobato